terça-feira, 22 de outubro de 2013

"Mas como eu posso seguir em frente, se as suas impressões digitais ainda estão no meu coração, e a sua voz ainda ressoa até os meus pés e o seu sorriso vive nos meus olhos e toda vez que a minha mente viaja, ela vai diretamente até você?"

Autor desconhecido

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Presságio

O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

OCD


Quando eu vi ela pela primeira vez, tudo na minha cabeça ficou quieto.
Todos os tiques, todas as imagens constantemente se repetindo simplesmente desapareceram.
Quando você tem Transtorno Obsessivo Compulsivo, você realmente não tem momentos quietos.
Até mesmo na cama, eu estou pensando:
Eu tranquei as portas? Sim.
Eu lavei as minhas mãos? Sim.
Eu tranquei as portas? Sim.
Eu lavei as minhas mãos? Sim.

Mas quando eu a vi, a única coisa na qual eu conseguia pensar era na curva dos lábios dela em forma de grampo...
Ou no cílio na bochecha dela-
o cílio na bochecha dela-
o cílio na bochecha dela- 
Eu sabia que precisava falar com ela.
Eu a convidei para sair seis vezes em trinta segundos.
Ela disse sim depois da terceira vez, mas nenhuma delas pareceu certa, então eu tive que continuar perguntando.
No nosso primeiro encontro, eu passei mais tempo organizando a minha comida pela cor do que comendo, ou conversando com ela...
Mas ela adorou isso.
Ela adorou que eu precisava beijá-la dezesseis vezes ou vinte e quatro vezes em horas diferentes do dia.
Ela adorou que eu demorei uma eternidade para chegar em casa caminhando porque havia muitas rachaduras na nossa calçada.
Quando nós passamos a morar juntos, ela disse que se sentia segura, como se nunca ninguém pudesse nos roubar porque eu definitivamente tranquei a porta dezoito vezes.

Eu sempre observava a boca dela quando ela falava-
quando ela falava-
quando ela falava-
quando ela falava;
quando ela dizia que me amava, a boca dela fazia uma curva até o topo.
À noite, ela se deitava na cama e me assistia desligando todas as luzes... e ligando, e desligando, e ligando, e desligando, e ligando, e desligando, e ligando, e desligando.
Ela fechava os olhos e imaginava que os dias e as noites estavam passando na frente dela.

Mas então... ela disse que eu estava tomando demais do seu tempo.
Que eu não poderia beijá-la tantas vezes para me despedir porque eu estava fazendo com que ela se atrasasse para o trabalho...
Quando ela disse que me amava, a boca dela era uma linha reta...
Quando eu parei em frente a uma rachadura na calçada, ela simplesmente continuou andando...
E semana passada ela começou a dormir na casa da mãe dela.
Ela me disse que nunca deveria ter deixado eu me apegar tanto a ela, que toda essa história era um erro, mas...
Como isso pode ser um erro se eu não preciso lavar as minhas mãos depois que eu toco nela?
O amor não é um erro, e está me matando o fato de que ela pode fugir disso e eu não.
Eu não posso sair e procurar por alguém novo porque eu estou sempre pensando nela.
Normalmente, quando eu fico obcecado pelas coisas, eu vejo germes entrando na minha pele.
Eu me vejo esmagado por uma sucessão de carros sem fim...
E ela foi a primeira coisa bonita pela qual eu me tornei obcecado.
Eu quero acordar todas as manhãs pensando no jeito como ela segura o volante dela.
O jeito como ela desliga o registro do chuveiro como se estivesse abrindo um cofre.
O jeito como ela apaga as velas-
apaga as velas-
apaga as velas-
apaga-...
Agora, eu só penso em quem está a beijando.
Eu não consigo respirar porque ele só beija ela uma vez- ele não se importa se é perfeito!
Eu a quero tanto de volta...
que deixo as portas destrancadas.
Eu deixo as luzes acesas.

Neil Hilborn